quarta-feira, agosto 14

O que trava a ciência no Brasil?

Temos mais dinheiro, o triplo de estudos e subimos oito posições no ranking mundial da pesquisa. Nossos cientistas, no entanto, ainda passam por uma via-crúcis para trabalhar. Veja o que falta para o Brasil virar uma grande potência na área


Editora Globo

Diz-se que o sistema de ciência e tecnologia do Brasil começa oficialmente com o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), criado em 1951 para incentivar nosso progresso na área. Claro, já havia antes instituições de destaque: do Observatório Nacional no Rio (ainda do tempo do Império) às universidades federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e estadual de São Paulo (USP), fundadas em 1920 e 1934. De qualquer forma, trata-se de uma história muito jovem. Basta lembrar que os Estados Unidos viram sua prestigiosa Universidade Harvard surgir em 1636. Ou seja: estamos correndo atrás, e não faz pouco tempo. A boa notícia é que nos últimos 20 anos a coisa finalmente parece ter engrenado. 

Passamos da 21ª para a 13ª posição no ranking mundial de produção científica (veja ao lado) e levantamentos já indicam que o Brasil responde por 2,7% dos trabalhos científicos publicados no mundo (em 1994, era apenas 0,7%). “Se for pensar que o PIB do Brasil [Produto Interno Bruto, soma de todas as riquezas produzidas pelo país em um ano] representa cerca de 2,9% do mundo, você vê que nossa ciência já atingiu um tamanho proporcional à nossa economia”, diz Marco Antonio Raupp, ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação. Em evento recente na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Raupp mostrou que os investimentos do governo na área foram de R$ 1,1 bilhão em 2000 para R$ 12,7 bilhões em 2013. “Nunca antes na história desse país, como costuma dizer nosso ex-presidente”, brincou o ministro. 

Mas nem tudo são flores. Pra começar, a parcela do PIB investida em pesquisa e desenvolvimento, 1,16%, ainda é pequena se comparada com a de nações desenvolvidas como a Alemanha (2,7%) ou EUA (2,8%) — e não vem crescendo expressivamente na última década. Isso deixa muito trabalho bom de fora. “Se a taxa de projetos aprovados no CNPq é de 50% e a taxa de financiados é de 20%, nos sentimos no direito de pleitear mais”, diz Helena Nader, presidente da SBPC. 

Além do dinheiro, há entraves puramente burocráticos. Não à toa está entre as prioridades do governo fazer aprovar no Congresso Nacional um Código Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Trata-se de um conjunto de leis que deve resolver alguns desses problemas — mas não todos. Até mesmo o ex-jogador e deputado federal Romário de Souza Faria (PSB-RJ) anda enchendo a bola dos cientistas, com um projeto de lei para facilitar as importações, uma das piores vias-crúcis de quem quer fazer pesquisa de ponta no país. São sinais alvissareiros: pouco a pouco, os freios da ciência nacional começam a ser colocados de lado, após décadas de protestos dos meios acadêmicos. 

Mas há muito a ser feito: de facilitar o acesso de cientistas a recursos a fazer o governo se mexer quando surgem oportunidades em parcerias científicas internacionais. Neste Dossiê, mostramos algumas das principais dificuldades ainda enfrentadas pelos pesquisadores brasileiros, e como o país se prepara para lidar com elas.

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