domingo, setembro 1

Culto ao leão no Egito antigo é comprovado


O estudo do esqueleto de um leão encontrado em 2001, em Saqqara, na tumba de Maia, ama-de-leite real de Tutancâmon, confirma que no Egito antigo existia um culto a esse animal e seu enterro era precedido por um processo de mumificação. A informação é de um estudo que será publicado amanhã na revista científica britânica Nature.
A Missão Arqueológica Francesa de Bubasteion (MAFB), coordenada pelo egiptólogo Alain Zivie, do Centro Nacional Pesquisas Científicas (CNRS), encontrou há três anos um leão enterrado - e cujo esqueleto estava praticamente completo - no sítio arqueológico de Saqqara (35 quilômetros ao sudoeste do Cairo). Vários indícios - posição das patas, restos de pigmentos - permitiram deduzir que o animal havia sido mumificado.
A descoberta ocorreu nas catacumbas de gatos do Período Helênico, associadas ao culto da deusa gata Bastet e que foram instaladas em um cemitério muito mais antigo, datado da Dinastia XVIII, ou seja século XIV a.C.. Lá foi encontrada a tumba de Maia, dama da corte que foi ama-de-leite do jovem Tutancâmon. Esta sepultura foi descoberta em 1996, também pela MAFB.
Alguns autores clássicos da Época Greco-Romana e inscrições faraônicas atestam a existência de leões (Panthera leo) entre os animais considerados sagrados e que eram objeto de culto no Egito antigo. Esses animais eram associados a determinadas divindades e por isso eram alimentados e bem tratados em vida, além de mumificados e enterrados em tumbas individuais ao morrer.
"Porém, até o momento, nenhuma confirmação desse fato havia sido estabelecida, pois nenhum leão nunca havia sido encontrado no Egito, exceto os ossos dispersos da Época Arcaica encontrados em Abydos", afirma um comunicado do CNRS.
A arqueóloga e zoóloga Cécile Callou analisou os restos do leão encontrado e concluiu que se trata de um macho adulto, sem dúvida morto de velhice. Patologias dentárias (dentes gastos até a gengiva e fleimões) e pedaços de costelas quebradas demonstram que o animal não vivia em liberdade. Porém, ainda existem incógnitas a respeito do leão. Entre outras coisas sua origem e como situá-lo no Período Helênico, ou seja entre os séculos VI e I a.C..
De acordo com os cientistas do CNRS, pode se tratar de um animal associado ao deus Mahes, filho da deusa leoa Sekhmet. Porém, como esta deusa era aparentada da deusa Bastet, objeto de culto em Saqqara, compreende-se o fato de ter sido encontrado entre os restos de vários gatos mumificados.
Em decorrência desse contexto, este leão, o primeiro exemplar completo da época já encontrado, confirma que os leões eram adorados e enterrados não apenas na cidade de Leontópolis, mas também na grande cidade de Mênfis, da qual Saqqara era o cemitério.

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