Pesquisadora entra em grupo amador de canto e escreve livro para provar, com fundamento científico, porque soltar a voz faz bem
Eduard Anatolyevich Khil, famoso pela cantoria 'Trolololo' no YouTube
A escritora americana Stacy Horn publicou um livro que tenta provar com meios científicos o que quase todo mundo sente na pele: cantar faz bem à saúde. Em Imperfect Harmony: Finding Happiness Singing With Others (“Harmonia Imperfeita, Encontrando Felicidade Cantando com Outros”, na tradução literal, sem versão no Brasil), lançado no início de julho, a escritora conta a sua experiência e lança um convite geral para as pessoas participem de grupos de canto - e quanto mais amadores, melhor.
Horn entrou em um coral em Nova York quando tinha 26 anos e estava diagnosticada com depressão. Hoje, Horn recomenda o passatempo baseado em termos científicos.
Em termos de pesquisas, a área recebeu bastante atenção de cientistas ao redor do mundo, o que permitiu substituir as antigas especulações por informações mais palpáveis. Entre os fatos descobertos está o de que mais do que escutar, o ato de cantar melhora sensivelmente a produção de neurotransmissores responsáveis pelo controle da ansiedade, estresse e também pela sensação de prazer. Melhor do que simplesmente cantar, é cantar em grupo, e quanto mais amador melhor.
O uso da música como remédio ou instrumento mágico de cura é uma prática tão antiga quanto a própria música. Sob o nome de musicoterapia, especula-se os benefícios trazidos pela música a tratamento de depressão, esquizofrenia e até motores. Nestes casos, trata-se da aplicação da música em tratamentos neurológicos, como em casos de pacientes de Mal de Parkinson e Alzheimer, o que a dá outro nome: neuromusicoterapia.
Grupos de corais se tornaram objetos de estudo a partir dos bons resultados em termos de satisfação e saúde que apresentavam a seus membros. Além dos benefícios do ato de cantar em si, o coral ajuda a cumprir uma função social, extremamente importante para pacientes de doenças crônicas, por exemplo.
Um estudo de 2004, na Alemanha, avaliou alguns dos efeitos de se cantar em coral e constatou que a prática afeta positivamente a produção de cortisol, hormônio ligado ao controle do stress, imunidade e a presença de açúcar no sangue. Em 2012, o Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de Oxford concluiu que o ato de cantar (assim como o de dançar) desencadeava a produção de endorfina, ligada à imunidade a dor e à sensação de prazer. Os mesmos efeitos não foram percebidos em pessoas que apenas escutaram à música.
Dois pesquisadores turcos analisaram grupos submetidos a sessões de cantoria em grupo e concluíram que cantar afetou diretamente seus níveis de ansiedade. Outra equipe, formada por pesquisadores da Universidade de Cardiff, do País de Gales, concluiu que a presença de pacientes com câncer em corais afetou diretamente indicadores relacionados a qualidade de vida e depressão.
E uma equipe liderada por um sueco do Centro de Reparação Cerebral e Reabilitação, do Instituto de Neurociência da Suécia, concluiu que o ritmo da música afeta a respiração (tornando-a mais lenta e profunda) e o batimento cardíaco de quem canta. Isso permitiu se chegar ao fato de que o batimento dos membros de grupos de cantores estão perfeitamente sincronizados, algo bem próximo do que acontece com grupos de meditação e o seus mantras.
“Cantar em grupo é mais barato que terapia, mais saudável que beber e certamente é mais divertido do que malhar em alguma academia”, escreveu Horn na Time.
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